O sonho atravessou um milênio voando e deixou em mim apenas a sensação do todo.
[...]aprenderam a mentir e tomaram o amor como a mentira e conheceram a beleza da mentira. Ah, isso talvez tenha começado inocentemente, por brincadeira, por coquetismo, por um jogo de amor, na verdade, talvez, por um átomo, mas esse átomo de mentira penetrou no coração e lhes agradou. Depois rapidamente nasceu a volúpia, a volúpia gerou o cíume, o cíume a crueldade... [...] Começaram as acusações, as censuras. Conheceram a vergonha e a vergonha erigiram em virtude. Nasceu a noção de honra. [...]
Começou a luta pela separação, pala autonomia, pela individualidade, pelo meu e pelo teu. Passaram a falar línguas diferentes. Conheceram a dor e tomaram amor pela dor, tinham sede de tormento e diziam que a verdade só se alcança por tormento. [...]
Mal se lembravam daquilo que perderam, não queriam se lembrar nem mesmo que um dia foram inocentes e felizes. Riam até da possibilidade de um passado assim para sua felicidade, e o chamavam de ilusão. Não conseguiam sequer concebê-lo em formas e imagens, mas coisa estranha e maravilhosa: privados de toda a fé numa felicidade superior, chamando-a de conto da carochinha, quiseram a tal ponto ser inocentes e felizes de novo que caíram diante dos desejos de seu coração como crianças. [...]
E, no entanto, se pelo menos fosse possível que eles voltassem àquele estado inocentes e feliz do qual se privaram, e se pelo menos alguém de repende o mostrasse a eles de novo e lhes perguntasse: querem voltar? - eles certamente recusariam. Respondiam-me: "E daí que sejamos maus e injustos, sabemos disso e deploramos isso, e nos afligimos por isso a nós mesmos, e nos torturamos e nos castigamos, [...]mas temos a ciência, e por meio dela encontraremos de novo a verdade, mas dessa vez a usaremos consientemente, o entendimento é superior ao sentimento, a consciência da vida é superior a vida - o conhecimento das leis da felicidade é superior a felicidade."
(Dostoiévski, F. - Duas narrativas fantásticas; O sonho de um homem ridículo.)
[...]aprenderam a mentir e tomaram o amor como a mentira e conheceram a beleza da mentira. Ah, isso talvez tenha começado inocentemente, por brincadeira, por coquetismo, por um jogo de amor, na verdade, talvez, por um átomo, mas esse átomo de mentira penetrou no coração e lhes agradou. Depois rapidamente nasceu a volúpia, a volúpia gerou o cíume, o cíume a crueldade... [...] Começaram as acusações, as censuras. Conheceram a vergonha e a vergonha erigiram em virtude. Nasceu a noção de honra. [...]
Começou a luta pela separação, pala autonomia, pela individualidade, pelo meu e pelo teu. Passaram a falar línguas diferentes. Conheceram a dor e tomaram amor pela dor, tinham sede de tormento e diziam que a verdade só se alcança por tormento. [...]
Mal se lembravam daquilo que perderam, não queriam se lembrar nem mesmo que um dia foram inocentes e felizes. Riam até da possibilidade de um passado assim para sua felicidade, e o chamavam de ilusão. Não conseguiam sequer concebê-lo em formas e imagens, mas coisa estranha e maravilhosa: privados de toda a fé numa felicidade superior, chamando-a de conto da carochinha, quiseram a tal ponto ser inocentes e felizes de novo que caíram diante dos desejos de seu coração como crianças. [...]
E, no entanto, se pelo menos fosse possível que eles voltassem àquele estado inocentes e feliz do qual se privaram, e se pelo menos alguém de repende o mostrasse a eles de novo e lhes perguntasse: querem voltar? - eles certamente recusariam. Respondiam-me: "E daí que sejamos maus e injustos, sabemos disso e deploramos isso, e nos afligimos por isso a nós mesmos, e nos torturamos e nos castigamos, [...]mas temos a ciência, e por meio dela encontraremos de novo a verdade, mas dessa vez a usaremos consientemente, o entendimento é superior ao sentimento, a consciência da vida é superior a vida - o conhecimento das leis da felicidade é superior a felicidade."
(Dostoiévski, F. - Duas narrativas fantásticas; O sonho de um homem ridículo.)
Um comentário:
Dostoiévski é Dostoiévski, ótima forma de começar
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